A
espiritualidade do Tempo do Advento e do Natal
Daniel Couto[1]
Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor,
entre a primeira e a última há uma vinda intermediária (...) Esta vinda
intermediária é, portanto, como um caminho que conduz a primeira e à ultima
(São Bernardo – Abade do Sec. XII)
O Advento é o primeiro tempo do ano
litúrgico. Ele se caracteriza como um conjunto de quatro semanas onde a igreja
se prepara para o mistério da vinda de Jesus Cristo. Para entendermos melhor do
que se trata este tempo é necessário, primeiro, entender o funcionamento do ano
litúrgico.
A Igreja celebra o Mistério Pascal de Cristo
durante todo o ano, porém existem tempos onde celebramos de forma mais
específica certos mistérios do Cristo, e também as festas dos santos. O ano
litúrgico é a oportunidade que a Igreja nos oferece para encontrar o Senhor nos
mistérios que conformam o acontecimento Pascal. O calendário litúrgico então é
um pouco diferente do nosso costumeiro calendário civil, e inicia-se no
primeiro domingo do Advento.
Esse calendário litúrgico proporciona à
Igreja que celebra a vivência, através das celebrações litúrgicas, de todo o
mistério de Cristo. Podemos perceber então que as duas grandes festas do Ano
Litúrgico são precedidas por um tempo de preparação, sendo elas a Páscoa,
precedida pela Quaresma e o Natal, precedido pelo Advento.
O ano litúrgico se caracteriza pela
celebração da liturgia da Igreja, e por isso é importante frisarmos que não é
um mero calendário de reflexão diário e de “comemoração” dos santos, mas é um
calendário celebrativo. O ano litúrgico toma vida quando é celebrado. Sendo
assim é importante conhecermos bem cada tempo, e suas particularidades e
espiritualidade própria, para que a sua vivência seja verdadeira e autêntica.
Com isso voltamos ao Advento, o tempo que
abre para nós esse ano celebrativo e nos prepara para a festa do Natal. A
palavra advento vem do latim adventos que
quer dizer “chegada” derivada do verbo advenire
que significa “chegar a”, e isso já nos mostra esse caráter de espera do tempo
do Advento.
Nós esperamos o Cristo que veio e há de vir
novamente em sua glória. Celebramos nas duas primeiras semanas a expectativa da
segunda vinda do Cristo, a vinda definitiva e gloriosa. Nas duas semanas
seguintes o nosso olhar se volta para a celebração do natal, a primeira vinda
de Jesus entre nós. O Deus que se fez homem como nós e assumiu toda a nossa
natureza. Porém costurando essas duas vindas também celebramos uma terceira
vinda, a vinda intermediária do Cristo. Essa “vinda intermediária” acontece no
tempo presente, sobretudo e especialmente nas ações litúrgicas, nas quais o
Senhor se faz presente na sua Igreja. A celebração eucarística, em particular,
revela e articula esta teologia da tríplice vinda: narra-se o evento da
Salvação que se deu em Jesus de Nazaré, acolhe-se mediante a proclamação deste
evento sua presença no “hoje litúrgico” e por fim, colocamo-nos em atitude de
espera por sua manifestação futura e ultima: “Toda vez que comemos deste pão e
bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor a vossa morte enquanto esperamos a
vossa vinda”
No advento então somos convidados a ficar
vigilantes. A esperar com esperança. É tempo de silêncio e reflexão. É tempo de
nos preparar para a encarnação do verbo em nós. A espiritualidade deste tempo é
marcada pela sobriedade, e pela esperança. Neste tempo também somos levados a
observar a pobreza, não uma pobreza superficial de bens materiais, mas uma
pobreza que nos leva a confiar, a nos abandonar e a nos entregar inteiramente a
Deus.
[1]
Daniel Couto é membro da Comissão Arquidiocesana de Liturgia da Arquidiocese de
Belo Horizonte e bacharelando em Filosofia pela Universidade Federal de Minas
Gerais.
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