terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A espiritualidade do Tempo do Advento e do Natal

Daniel Couto[1]
Conhecemos uma tríplice vinda do Senhor, entre a primeira e a última há uma vinda intermediária (...) Esta vinda intermediária é, portanto, como um caminho que conduz a primeira e à ultima (São Bernardo – Abade do Sec. XII)

O Advento é o primeiro tempo do ano litúrgico. Ele se caracteriza como um conjunto de quatro semanas onde a igreja se prepara para o mistério da vinda de Jesus Cristo. Para entendermos melhor do que se trata este tempo é necessário, primeiro, entender o funcionamento do ano litúrgico.

A Igreja celebra o Mistério Pascal de Cristo durante todo o ano, porém existem tempos onde celebramos de forma mais específica certos mistérios do Cristo, e também as festas dos santos. O ano litúrgico é a oportunidade que a Igreja nos oferece para encontrar o Senhor nos mistérios que conformam o acontecimento Pascal. O calendário litúrgico então é um pouco diferente do nosso costumeiro calendário civil, e inicia-se no primeiro domingo do Advento. 

Esse calendário litúrgico proporciona à Igreja que celebra a vivência, através das celebrações litúrgicas, de todo o mistério de Cristo. Podemos perceber então que as duas grandes festas do Ano Litúrgico são precedidas por um tempo de preparação, sendo elas a Páscoa, precedida pela Quaresma e o Natal, precedido pelo Advento.

O ano litúrgico se caracteriza pela celebração da liturgia da Igreja, e por isso é importante frisarmos que não é um mero calendário de reflexão diário e de “comemoração” dos santos, mas é um calendário celebrativo. O ano litúrgico toma vida quando é celebrado. Sendo assim é importante conhecermos bem cada tempo, e suas particularidades e espiritualidade própria, para que a sua vivência seja verdadeira e autêntica.

Com isso voltamos ao Advento, o tempo que abre para nós esse ano celebrativo e nos prepara para a festa do Natal. A palavra advento vem do latim adventos que quer dizer “chegada” derivada do verbo advenire que significa “chegar a”, e isso já nos mostra esse caráter de espera do tempo do Advento.

Nós esperamos o Cristo que veio e há de vir novamente em sua glória. Celebramos nas duas primeiras semanas a expectativa da segunda vinda do Cristo, a vinda definitiva e gloriosa. Nas duas semanas seguintes o nosso olhar se volta para a celebração do natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. O Deus que se fez homem como nós e assumiu toda a nossa natureza. Porém costurando essas duas vindas também celebramos uma terceira vinda, a vinda intermediária do Cristo. Essa “vinda intermediária” acontece no tempo presente, sobretudo e especialmente nas ações litúrgicas, nas quais o Senhor se faz presente na sua Igreja. A celebração eucarística, em particular, revela e articula esta teologia da tríplice vinda: narra-se o evento da Salvação que se deu em Jesus de Nazaré, acolhe-se mediante a proclamação deste evento sua presença no “hoje litúrgico” e por fim, colocamo-nos em atitude de espera por sua manifestação futura e ultima: “Toda vez que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor a vossa morte enquanto esperamos a vossa vinda”

No advento então somos convidados a ficar vigilantes. A esperar com esperança. É tempo de silêncio e reflexão. É tempo de nos preparar para a encarnação do verbo em nós. A espiritualidade deste tempo é marcada pela sobriedade, e pela esperança. Neste tempo também somos levados a observar a pobreza, não uma pobreza superficial de bens materiais, mas uma pobreza que nos leva a confiar, a nos abandonar e a nos entregar inteiramente a Deus.


É preciso então celebrar o Advento colocando-se sempre neste caminho, revendo alguns valores essenciais dos cristãos como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza e a conversão. Neste tempo de preparação vamos realmente nos preparar para a festa do Natal de nosso Senhor e viver plenamente este mistério do Verbo que se encarnou.


[1] Daniel Couto é membro da Comissão Arquidiocesana de Liturgia da Arquidiocese de Belo Horizonte e bacharelando em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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