segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sacramento do Matrimônio 3ª Reflexão

 

O corpo como santuário do Espírito

(1 Cor 6,19)

Como os demais seres, o homem e a mulher são chamados a se realizar no amor também através do corpo. O amor não se exprime apenas no nível espiritual e afetivo, mas também, de modo particular, corporalmente. O ser humano, como um todo, ama e sente-se amado. No casamento, o amor passa, necessariamente, pelo símbolo do corpo, embora não se restrinja ao mero contato físico. As relações entre o homem e a mulher estabelecem-se em vários níveis que se completam e que se exigem mutuamente. O amor físico dos esposos é também lugar em que eles podem realizar a experiência de Deus.

No entanto, o corpo é também limite, finitude. O ser humano precisa do corpo, mas vai além da sua corporeidade. O corpo é um instrumento imperfeito, no sentido de ter resistências, erros e fracassos, instintos incontrolados, doenças e tudo o mais que exprime suas dimensões material e corporal. Tudo isso tem excepcional importância para o matrimônio. É justamente na relação matrimonial, em que a presença corporal é mais intensa na relação sexual, quando se corre o risco da duplicidade de atitude: entrega-se o corpo, mas não se ama.

O ser humano é um ser corpóreo sexuado que inclui a diferenciação sexual. Em sua totalidade, o ser humano é sempre masculino-feminino, embora em sua maneira humana de existir seja homem ou mulher. A sexualidade é, pois, fonte de diversidade e de inter-relação. A alteridade humana não constitui algo acidental, secundário, mas essencial e fundamental.

A diferenciação sexual influencia diretamente na personalidade do homem e da mulher. Esse relacionamento interpessoal faz com que a sexualidade humana seja inteiramente diferente daquela dos animais, está na base de todo encontro interpessoal, tanto no estado matrimonial como no estado celibatário. O amor é o centro do sentido que faz da relação sexual um símbolo eloquente. A sexualidade, no entanto, revela simultaneamente a grandeza e a miséria humana, como também a realização e o desencontro do matrimônio.

Em sua dimensão natural, não há como justificar uma visão negativa, em si mesma pecaminosa, da sexualidade humana. Na afirmação de Francisco Taborda, não é, portanto, “um defeito da criação, mas sua culminação. A pertença à ordem da diferença convida o ser humano a reconhecer que não é tudo, não é Deus, e a viver essa limitação como possibilitadora do amor. Já aqui está presente o que ficará claro com a outra categoria, a da alteridade: o perigo da sexualidade é querer abolir a diferença, negar-se a si mesmo, fechar-se sobre si. (Matrimônio – Aliança –Loyola,2001,pág 20)

“O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam.” (Gn 2,25)... Porém, ao preferir a si mesmo a Deus, o ser humano quer ser como Deus, acaba dele se afastando e percebe a própria miséria, sua nudez, O Senhor Deus disse: “Quem te revelou que estavas nu?... (Gn 3,11). Por este sentimento, o convívio amoroso com o Criador dá lugar à expulsão do paraíso, “O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado.” (Gn 3,23) A harmonia interior transforma-se em conflito permanente, em desajuste pessoal e conjugal. A união entre o homem e a mulher é submetida a tensões: “O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.” (Gn 3,12) O sentimento de culpa acompanha a história da humanidade decaída. A parceria com a criação torna-se fonte de sofrimento “Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.” E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra.” (Gn 3,16-18) enfim, o homem voltará ao pó de onde veio, mergulhando na dramaticidade da morte “... até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Gn 3,19) A partir do primeiro pecado, uma enxurrada de males aflige a humanidade. A família, criada para ser um “SANTUÁRIO DE AMOR”, mergulha no ódio e no crime. “Caim disse então a Abel, seu irmão: “Vamos ao campo.” Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e matou-o.” (Gn 4,8) A corrupção invade a sociedade a ponto de provocar castigo da parte de Deus “Então Deus disse a Noé: “Eis chegado o fim de toda a criatura diante de mim, pois eles encheram a terra de violência. Vou exterminá-los juntamente com a terra” (Gn 6,13) As pessoas, dominadas pelo orgulho, já não mais se entendem, “Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro.” (Gn 11,7) e a perversidade toma conta da comunidade humana “Deus olhou para a terra e viu que ela estava corrompida: toda a criatura seguia na terra o caminho da corrupção.” (Gn 6,12) As consequências do pecado atingem todos os homens e cada ser humano, em particular “... o pecado entrou no mundo por um só homem, através do pecado, a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram..”.(Rm 5,12)

A própria família é atingida pelo pecado, desfigurando a harmonia da criação. Os instintos desordenados ameaçam o equilíbrio das relações conjugais e desencadeiam a tensão entre a inteligência e o afeto, entre o espiritual e o corporal, entre o amor e a paixão. A cooperação dá lugar à competição; o amor mútuo ao egoísmo. O casal humano, antes modelo de unidade, é corrompido em sua base. Os interesses pessoais sobrepõem-se aos objetivos comuns, o que torna mais difícil a abertura e a entrega ao outro. No seio da família instalam-se o conflito e o desencontro.

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