domingo, 5 de fevereiro de 2012

4º dia da Novena

 

Deus é Amor!

(1 Jo 4,16)

O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, não apenas como individuo, mas também enquanto casal. (Gn 1,27). Na linguagem teológica, a família é freqüentemente comparada à comunidade da Santíssima Trindade. Para uns, a mulher representa o Espírito Santo, a quem são atribuídos amor, doçura, afeto e inspiração; o homem reflete a imagem do Pai, a força, o provedor, aquele que cuida e tem tudo nas mãos e o (s) filho (s) se encontra na figura do Cristo, que se fez obediente e viveu em profunda comunhão com a família. Embora seja uma analogia, não deixa, contudo, de exprimir algo do mistério de Deus Amor e Criativo e da capacidade amorosa e criativa do ser humano. O casal recebe de Deus a plenitude e a abundância do amor do Pai, a confiança e o sim do Filho, a força e o calor do Espírito Santo. Pelo matrimônio, o homem e a mulher tornam-se, juntos, imagem e semelhança de Deus Trindade. O sacramento de ser amor mútuo cumula-os de graças e chama-os a viver essa comunhão de amor destinada a ser verdadeiro modelo de santidade. Quanto mais refletem na vida o amor divino, tanto mais desenvolvem a capacidade de amar.

Os gregos distinguem três dimensões do amor: o amor de paixão (Eros); o amor de amizade (Philia) e o amor oblativo (Ágape) e é justamente o equilíbrio dessas dimensões que caracteriza a maturidade da pessoa.

Eros - freqüentemente o termo erótico é empregado como sinônimo de devassidão, depravação, libertinagem, tudo o que envolve o sexual-genital. A teologia moral, no entanto, não tem dúvidas em afirmar que a sexualidade e o erotismo são parte integrante do próprio matrimônio e, por conseguinte, do sacramento do matrimônio. Etimologicamente, erótico é atributo daquele que demonstra grande atração, paixão, amor intenso.

O impulso erótico não é simplesmente uma realidade física ou biológica, nem um fato meramente espiritual; parte da atração dos sexos, mas vai além do prazer sexual, impulsionando o ser humano para o encontro com o outro em vista da complementaridade entre as pessoas. Sentir a força do Eros nos instintos sexuais não é indecoroso, mas é parte da personalidade bem constituída. O erro, o pecado é o egoísmo que se pode estabelecer nas relações desequilibradas. Graças a este impulso erótico é que o ser humano é capaz de lutar por uma causa, investir na busca de um ideal, persistir numa caminhada que, embora difícil, é fascinante. O Eros é fonte de realização pessoal e salvação; abandonado as suas próprias inclinações, torna-se constante tentação e põe em risco a própria salvação. O dinamismo capaz de orientar o eros é a Philia.

Jesus imprime novo caráter, nova profundidade à amizade: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.” (Jo 15,13) Amigo é a pessoa querida por nós; com ela mantemos relações de afeto, de entrega, de confiança (carus – caritas). Sentimos prazer (Eros) em estar com os amigos. A verdadeira amizade liberta as pessoas de apegos doentios; jamais usa os outros para interesses próprios. É essencialmente altruísta. O autor do Livro do Eclesiástico adverte: “ Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; não te apresses em confiar nele. Porque há amigo de ocasião, que não persevera no dia da desgraça” (Eclo 6,7-8) Sem a capacidade de dar e de receber o amor-amizade, não é possível alimentar a solidariedade, o amor-universal. O fechamento em si mesmo impede qualquer tentativa de ser solidário com o outro, porque o verdadeiro amor não conhece egoísmos. Philia é o início da capacidade de ver e perceber o outro e de ir ao encontro dele. O dinamismo capaz de orientar bem a Phlilia é o Ágape.

O Ágape não exclui o Eros, nem a Philia, mas integra-os numa síntese maior. Na mitologia grega, os deuses não amam, porque possuem tudo; para os cristãos, Deus, exatamente porque é o Senhor de tudo, é também aquele que tudo provê em seu amor: “Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4,8) No Ágape cristão, Deus entra em comunhão com os seres humanos no amor e por amor. Ele se interessa pelos seres humanos não porque eles tenham algo a oferecer-lhes, ou porque deles tenha necessidade, mas porque ele é AMOR. A gratuidade do amor divino é a característica fundamental do Deus-amor. O Ágape é a plena vivência do amor Eros e Philia na perspectiva da decisão de amar, da oblação.

Por meio do Ágape cristão o amor matrimonial é capaz de ir além da simples amizade (Philia) e de canalizar a paixão (Eros) em vista da comunhão pessoal e da aceitação não egoísta do outro. Sempre existirá tensão entre o Eros e Ágape, mas eles não se opõem, pelo contrário, completam-se, integram-se. Assim como não há amor sem paixão, não existe paixão positiva que não se plenifique num amor mais profundo, na entrega, na doação.

O matrimônio estável tem necessidade de manter equilíbrio entre o amor realizador (Eros) e o amor oblativo (Ágape). Embora essa harmonia seja adquirida também a partir do esforço humano, é essencialmente dom de Deus. “ É hora de sabermos que, quando não há condições para amar - quando não há uma infra-estrutura psicológica, moral, espiritual, afetiva e psíquica, na personalidade de cada um- a vida conjugal resvala no desfiladeiro da incompatibilidade, tanto mais depressa quanto mais os dois pensam que se amam, pois acabam cegos para a verdade de cada um. E, cegos, como evitar choques por deficiência de visão? Não basta o auxílio das ciências humanas, ainda que necessárias, precisa-se de Deus! O Eros e o Ágape estão simultaneamente, sob o influxo do pecado e da graça.

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